O CORONA E NOSSA FÉ EM HASHEM

Hashem escreve a história de modo que só possamos compreendê-la muito tempo depois, diz um provérbio ídiche.
A rapidez e a fúria com que a pandemia se espalhou deixaram-nos aturdidos. O Anjo da Morte não distingue classes, culturas, nacionalidades ou religiões, causando dor e sofrimento em milhões de nossas famílias. Somente com a vacinação, e com a ajuda de Hashem, venceremos a doença.

A humanidade dominou o átomo, chegou a planetas, desvendou o DNA, desenvolveu computadores, conectou-se pela internet. Pensava-se poderosa, imbatível, segura de seu futuro material; de certa forma, como uma espécie superior aos antepassados.

Tudo mudou em março de 2020. Subitamente, a sensação de superioridade mostrou-se vã. Surgiu uma praga como as que assolaram gerações passadas. A economia moderna globalizada, incrível construção humana que nos propiciou enorme progresso e conforto material, travou. Quase tudo, inclusive nossa linda e antiga Sinagoga, fechou. Apenas hospitais e poucos serviços essenciais continuaram a funcionar, cumprindo a Mitzvá de sustentar e salvar vidas.

No início, estávamos no escuro. Não sabíamos como ou em que taxa o vírus se transmitia ou retransmitia, quais os grupos de risco, o que fazer para contê-lo. Os casos dispararam, o pânico se espalhou. Governos passaram a tomar medidas severas: fechamento de fronteiras, restrições à locomoção e lockdowns para tentar controlar o vírus e aliviar a pressão nos hospitais. A economia despencou. Consumidores desapareceram, empresas fecharam, milhões de pessoas perderam o emprego, num círculo vicioso que poderia nos levar a uma depressão econômica gravíssima.

Depois do choque inicial, no entanto, o mundo ocidental começou a agir. Salvar uma vida é salvar a humanidade; cientistas do mundo inteiro se uniram em busca de vacinas, instituiu-se o isolamento social, o uso de máscaras, novos procedimentos para trabalhadores essenciais, home office. Pouco a pouco, a economia foi sendo religada, ainda de maneira precária.

O vírus passou, e continuará por muito tempo, a determinar a dinâmica da economia. A ajuda para evitar o abismo veio dos governos. Implementaram-se enormes esquemas de transferências diretas às pessoas, de ajuda a empresas, proteção de empregos, intervenção maciça dos bancos centrais nos mercados para que não faltasse dinheiro, taxas de juros muito baixas para facilitar os pagamentos de dívidas e estimular o consumidor. Aos poucos, a confiança foi voltando; a economia mundial surpreendeu e, mesmo tendo se contraindo, terminou o ano de 2020 se recuperando rapidamente.

Sem o controle do vírus, porém, a ajuda contínua dos governos às economias não se sustenta. O dinheiro que governos podem gastar está se esgotando, principalmente nos países mais pobres e endividados como o Brasil. Na realidade, em todo o mundo, estamos tomando recursos emprestados das próximas gerações, emitindo dívidas de empresas, para sustentar suas operações e, principalmente, emitindo dívida pública para financiar os gastos extraordinários de governos. A dívida pública terá que ser paga no futuro por nós, nossos filhos e nossos netos. É uma aposta: gastamos o que não temos hoje, para salvar vidas e a economia mundial, com a esperança de poder pagar a dívida no futuro. Não tínhamos opção.

A hora de pagar vai chegar e só há quatro formas de resolver: crescimento acelerado da economia, aumento de impostos, aumento da inflação ou, num cenário desastroso e muito improvável, o calote.

Há ainda um complicador. A população dos países mais ricos, incluindo a China, está envelhecendo. A menos que se aumente a produtividade do trabalhador, haverá menos gente trabalhando para pagar mais impostos. Nas sociedades ocidentais, onde a classe média já vinha sendo duramente afetada pela competição com a Ásia, o nível de tensão pode aumentar. Pela primeira vez desde a Segunda Guerra, as novas gerações têm um padrão de vida pior do que a anterior.

A pandemia acelera essas tensões. Haverá muitos perdedores e poucos ganhadores, numa dinâmica confusa até que a economia real se ajuste.

Apesar das dificuldades que virão, vemos uma luz. Várias vacinas estão disponíveis, mostrando a inventividade humana. Muitos países, sendo Israel um orgulho e um farol, avançam rapidamente na vacinação de seus povos.
Vacinação em massa é o único modo de controlar o vírus. Não só a vida de muitos, mas a economia mundial depende disso.

Somos um velho povo. Fazemos parte de uma cadeia milenar. Um judeu sabe de onde veio, conhece a história de seu povo, de seus antepassados, seus Sábios, Profetas e Patriarcas. Nosso costume é dar muito mais importância às próximas gerações; sacrificar-nos para dar aos filhos a melhor educação possível e, usando o cabedal do judaísmo, prepará-las para o mundo.

Na Hagadá de Pessach, aprendemos que nunca devemos nos esquecer de que fomos escravos, e devemos nos sentir como se pertencêssemos àquelas gerações. Pois, mais do que nunca, devemos ser humildes e parcimoniosos, concentrar-nos em ajudar o próximo, fazendo Tzedaká, cumprindo as Mitzvot e em preparar a próxima geração para enfrentar tempos que se prenunciam incertos. Com nossa perseverança, nossa religião, nossas tradições e a luz da nossa sagrada Torá, atravessaremos esses momentos difíceis e manteremos intacta a nossa corrente sagrada, com a ajuda de Hashem.

Chag Pessach Sameach

Beny Parnes
(economista)

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